O auto conhecimento é uma arma de dois gumes. Pode levar o homem àquele estado de humildade necessário ao progresso intelectual, mas pode conduzi-lo pelos caminhos da auto suficiência e pelo pseudo domínio das leis de sua natureza quase sempre em detrimento dos que o cercam. É, no entanto, uma necessidade premente. Ao homem deve lhe ser dado conhecer-se ao máximo permissível por seus limites culturais ou psicológicos. Este o problema: os limites da personalidade, essa formidável incógnita. Aí o campo em que deveriam agir as religiões com as facilidades que possuem por atuarem em nome do altíssimo, incógnita universalmente aceita por todos os povos em que pese as denominações. O conhecimento interior gradual oferece o deslindamento de uma gama de verdades até então privilégio de seitas ou sistemas, afasta da responsabilidade imediata de um deus antropomórfico uma série de atributos próprios da natureza humana como inveja, ciúmes, preconceitos, tolerância, fraternidade, amor. As religiões deviam ensinar que esses sentimentos são da origem da pessoa humana e que a ela cabe o sucesso do seu real emprego no mundo em prol da humanidade. Se atribuirmos a um deus um instante de ira estaremos lhe concedendo a própria negação de ser deus. Se atribuímos a um deus tribal ou grupal o incitamento à destruição de semelhantes é justa uma reação igual e contrária nem que seja em nome de outros deuses ou demônios, conforme o lado da contenda. A verdade tem gravitado em torno desses desvarios. É tão simples de ver que o mundo se recusa a vê-la. As coisas simples não impressionam. É como Sidarta à beira do rio, cansado da procura incessante: de repente ali estava maravilhosamente simples todo o anelo de seu árduo empreendimento. O objetivo da procura não está no detalhe mas no todo, Esta a verdade cotidianamente negada. Enquanto o homem estiver mergulhado nos detalhes de sua existência jamais poderá descobrir a magnificência de sua natureza global. Assim como ao coração e ao cérebro lhe são negadas existências individuais, ao homem não lhe será permitido desenvolvimento excludente simplesmente por ser ele órgão de um só e grande organismo, a humanidade. No entanto, céu e terra passarão antes que lhe seja dado ao homem conhecer-se. Essa a lei que parece estar escrita pela humanidade.
“Uma ventania não dura toda a manhã. Um aguaceiro não dura todo o dia. Quem os produz? O céu e a terra. Se os fenômenos do céu e da terra não são duráveis como o seriam as ações humanas?”
Lao Tsé no Tao Te King sintetiza de forma admirável o livre arbítrio que preside as ações humanas. Nada há de definitivo e o que parece estar escrito pode muito bem só parecer. Ao homem unicamente compete a mudança das tormentas por que passa e a inexorabilidade da lei pode extinguir o furacão antes que se extinga o dia.
Para os que estão no fundo das trevas abissais, um raio de luz bem pode ser confundido com a verdade suprema. Para os que curtem fome e sede prolongadas uma gota d’água ou uma côdea de pão soem-lhes parecer uma dádiva divina. Em nenhum instante, aos necessitados lhes brotará à mente a relatividade dos acontecimentos ou a fortuidade das “dádivas”. Tudo é como deve ser desde que para a felicidade do homem. A verdade que se procura será reconhecida desde que favorável aos aspectos egoístas da humanidade. – “Procura-se uma verdade de acordo com a grandeza do homem. Gratifica-se bem.” – Provem daí a dificuldade em aceitá-la sob seus mais diversos matizes. Verdade, Felicidade, Deus e Amor são faces de um mesmo e único fenômeno. Deixaremos de procurá-lo quando os aceitarmos simples como são: instantes e eternidade. O mal maior da humanidade foi criar deus à sua imagem numa inversão sem precedentes. O homem, sempre dominado por um seu semelhante, ainda que em liberdade, procura um dominador supremo na figura de um criador de todas as coisas e não faz por menos, cria-o à sua imagem. Melhor fora se O imaginasse energia fundamental matriz e origem do Universo que tudo permeia. O mundo fenomenal nada mais seria do que aspectos vibratórios de determinadas gamas de freqüências. Estaríamos menos longe da verdade universal e menos afastados de nossa origem. Cumpre ao homem saber que nada é senão um simples reflexo da natureza divina a exemplo do que são o globo e o sistema e tudo o que neles exista. Movimento, movimento, eis o Universo.