quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Oito de Dezembro

Oito de Dezembro é dia de Nossa Senhora da Conceição. Nossa Senhora da Sagrada Concepção, a concepção do logos. Os celtas a referendavam como a mãe da Terra, a deusa lunar, a mãe de todos. O crescente a seus pés, numa das representações mais comuns. Era o mito lunar, mãe e origem do mito solar, o Cristos. Do seu ventre nasceria a luz do mundo, a redenção da Terra. E tal qual a serpente o fora pela deusa, o filho esmagaria a mãe sob sua cruz. A serpente, a mãe, o filho. A Terra, a Lua e o Sol. E o Céu que a todos contém. Urano, que devora os filhos recém nascidos, menos um, Júpiter, que lhe herdará o trono e a esposa, Gea, a Terra, mãe, mulher e irmã. O panteão Greco-romano é profícuo em imagens da criação, incompreensíveis para nossos padrões culturais modernos, mas eloqüentes em suas entrelinhas. O valor está naquilo que não foi dito mas insinuado. A imagem engana os olhos. Ninguém jamais verá nada completamente nessa dimensão. É preciso se estar no meio do cubo para que se possa ver simultaneamente suas arestas e cantos.

A beleza transmitida pelos rituais e crendices celtas não pode ser entendida à luz da modernidade. Quem vive sob a luz de sódio e de mercúrio se torna cego a luz da vela. O progresso tecnológico estende os limites físicos do homem e atrofia-lhe o espírito. O prato, o cálice, a lança, a espada. Paus, copas, ouro e espadas. O Tarot. As quatro forças que comandam a Terra. Poderia esse povo ser bárbaro? Ou hereje? Terra, água, fogo e ar. Os quatro elementos formadores da Terra, herdados da lua, a Deusa, a Mãe, transformada em Nossa Senhora da Concepção pelos “bárbaros”, esses sim, invasores, chamando-se a si próprios catequistas. Como não conseguiram extinguir a cultura nativa, herdaram-lhe os deuses e as festas ditas pagãs. Trocaram-lhes os nomes, adaptaram-nos a ídolos formatizados. A Deusa agora tinha forma humana palpável e visível. Um sacrilégio para aqueles que conheciam a natureza divina do não ser. Não há como personificar as forças divinas do universo. Não se pode limitar o ilimitado. Não se pode criar o incriado. Não se pode ver o invisível por estar além de todas as dimensões. É a própria origem das dimensões. O avatar disse, ninguém ouviu, nem os discípulos mais chegados. E em seu nome tentaram destruir o legado mais sublime dos criadores. Só tentaram, pois a verdade dorme no fundo da consciência lunar da Deusa. Nossa Senhora da Concepção, Iemanjá, rainha do mar. O berço da criação. O Grande Ventre. Origem de toda a vida terrestre.

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